UNA – Negra Sedução
“Una – Negra Sedução” é um inquietante e desconfortável drama, que nos intriga na abordagem peculiar ao abuso sexual.
Rooney Mara é Una, uma rapariga complexa de olhar fixo e intenso, que enfrenta Ben Mendelsohn, no papel do esguio e até algo galante Ray, que a abusou quando esta era criança…com a justificação de que a amava.
Com 13 anos, seduzida pelo vizinho…Una é abandonada na praia…Ray é preso e anos volvem, feridas não saram e uma fotografia de repente surge no jornal… Una não perde tempo e parte em busca do seu predador (?), amor (?), para o confrontar e fechar o ciclo. A angústia do filme assenta no propósito das questões que se levantam: qual é o verdadeiro intuito de Una? O que é que ela pretende: vingança? Paixão?
A tensão explana-se dentro de um armazém filmado com uma frieza esbranquiçada e de linhas ásperas, como que provocando uma metáfora à mente confusa e perdida de Una… que se estilhaça na presença da ambiguidade moral de Ray…que deturpa o passado com falinhas mansas e a ideia de um amor fora do tempo.
A sua discussão intercala-se com um momento tenso na vida profissional de Ray, que por pressão dos seus superiores, tem de escolher empregados para serem demitidos. A cada instante que Una o reencontra dentro do grande armazém, retoma o passado, dissecando-o em flashbacks. Curiosamente, vinhetas com uma delicadeza que fogem ao melodrama cliché do resto do filme e revelam como esta boneca de porcelana se partiu.
Quando os cacos se voltam a juntar, com o amor e a raiva em sufoco e catarse, o filme parte para o terceiro acto e Riz Ahmed entra em cena num papel acessório que serviria a qualquer actor da mesma idade de Rooney Mara, para somente acrescentar minutos à adaptação da peça teatral Blackbird de David Harrower, de onde ficaram as interpretações intensas de duas almas…algo perdidas no vácuo estéril filmado por Thimios Bakataki.
ESTREIA: 07/09/17